segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O prazer da culinária no conforto do lar

Por Laís Nogueira

Pelo olhar comum, uma casa como outra qualquer. Área verde, garagem e uma família que divide o espaço de uma casa ampla. Observando mais a fundo, nem tudo é o que parece ser. Aquele espaço, em pouco tempo se transformou em um negócio. Rapidamente as mesas espalhadas pela varanda ganharam uma nova função. Apoio para pratos, taças e talheres. Elementos utilizados por quem está disposto a conhecer uma nova proposta de restaurante, que valoriza os sabores da culinária local.


                                       Reprodução: https://www.facebook.com/CasadeFred


Para entender como essa história começou o chef de cozinha Fred Fedullo conta que o início foi como uma brincadeira: “A princípio não foi uma ideia. Era uma prática que a gente tinha de receber amigos em casa, e isso era uma coisa freqüente. Com essa freqüência toda, uma dessas amigas que participava do nosso grupo achou que era de certa forma um ‘abuso’ os encontros sempre acontecerem aqui, por conta do trabalho, dos custos, etc. Sempre quando a gente tava aqui em Salvador ligava uma pessoa, evidentemente uma pessoa amiga, perguntando se a gente ia ficar em casa. Eu respondia: 'vamos sim'. E o amigo dizia que ia passar aqui trazendo um vinho. Nessa história de trazer um vinho, a conseqüência era fazer uma comida. E a coisa começou dessa forma. Os amigos foram os primeiros termômetros pra indicar que isso deveria ser um negócio.”

Surpresa para ele que não tinha a pretensão de transformar a casa em um restaurante, Fred conta que financeiramente a ideia surgiu de uma forma inesperada: “Uma amiga colocou preço no menu que ela pediu que eu fizesse. Fiz esse menu, com um courvet, duas entradas, dois pratos principais e duas sobremesas Ela colocou preços simbólicos, mas colocou. Então distribuiu esse menu pra alguns outros amigos.”

Neste momento, o insight de transformar aquele cardápio, feito apenas para um encontro entre amigos, veio imediatamente. E o projeto foi ganhando corpo de uma maneira natural. “Na primeira sexta feira, porque no início acontecia somente às sextas, apareceram 12 amigos. Depois desse jantar eu me assustei porque, apesar de simbólico, estavam pagando. E foi aí que eu pensei que precisava fazer uma coisa mais elaborada, uma coisa melhor, uma apresentação melhor. A partir disso comecei a ornamentar prato, contratei um garçom. Houve uma segunda sexta feira, uma terceira, depois uma sexta e um sábado e a coisa foi caminhando dessa forma. Quando eu dei por mim eu tava recebendo pessoas que não eram amigas. Que já eram amigos dos amigos. Digamos que eu recebi um empurrão pra isso e gostei. Gostei tanto que estou aqui até hoje. Já faz nove anos.”

A princípio a ligação com a gastronomia era apenas na degustação de pratos das mais diversas espécies. “Sempre tive uma profissão e uma atuação econômica que não tinha nenhuma ligação com a gastronomia. De gastronomia, formalmente, eu não tenho nada. Nunca fiz um curso, não tenho nenhum tipo de experiência acadêmica, nada. Nem palestra. Mas depois, principalmente depois que eu entrei para esse seguimento eu passei a ler muito, tenho uma biblioteca farta. As minhas viagens sempre tiveram um marca gastronômica, então essa marca passou a ficar mais apurada. Mas eu continuo com a minha empresa, que é uma empresa de consultoria e treinamento na área de segurança e gênio ocupacional. Por formação eu tenho os cursos de letras e administração. Já atuei no pólo petroquímico durante muito tempo. Sempre tive essas ocupações. Só que depois que o restaurante surgiu, essas ocupações começaram a ficar secundárias por conta do prazer.”

Com uma visão empresarial de poucos, criatividade é algo que não falta para este chef com tantas habilidades. E na concepção do cardápio não podia ser diferente. Concebido com originalidade dele e de seu filho, Felipe, ele gosta de valorizar as vastas opções sabores baianos.

A elaboração de cardápios, a construção de novos pratos, a escolha de ingredientes, a compra de produtos, tudo isso é definido exclusivamente por nós.” 

“Os menus são feitos muito em cima da nossa cultura. Daquilo que a gente, gastronomicamente (em termos culinários), gosta. Levando em conta que a gente tem uma linha muito voltada para as pessoas da terra. Eu não sou um restaurante turístico. Apesar de ter muita gente de fora que vem aqui, essas pessoas vêm por indicação dos amigos. A gente faz uma culinária que está diretamente ligada aos gostos e prazeres locais.”

A ideia inovadora, de ceder o espaço doméstico aos clientes, parece agradar o público. Segundo avaliações do site www.tripadvisor.com.br, o lugar conquista não só pela comida.

Samanta Vidal, cliente do local, compartilhou suas impressões: "Um restaurante para quem quer comer (muito) bem!!! Além de pratos e sobremesas maravilhosas, o lugar é delicioso, tranquilo e lindo. O chef é uma simpatia e recebe como ninguém."


Já Júlia frequenta o local há muito tempo e garante: "Vou na Casa de Fred há anos, desde que inaugurou, e atesto com toda certeza que é a melhor comida que já tive o prazer de saborear. Todos os pratos que comi foram maravilhosos, cheios de sabores e texturas, um deleite aos olhos e ao paladar."

E a estudante Isabela Lopes, 17 anos, completa: “A ideia é bem interessante, porque torna o lugar mais aconchegante, dando um ar mais familiar. Já fui em um restaurante com uma proposta parecida, mas com outro tipo de culinária. Na casa de Fred o estilo é mais rebuscado. Acho que o diferencial é juntar o sabor peculiar com a proximidade que a gente tem do chef.”

Aparentemente com uma equipe formada apenas por Fred, seu filho (Felipe), e um garçom, o empresário afirma que por trás dos panos não é bem assim que acontece: “Uma coisa que já tomou esse corpo não pode funcionar apenas com essa quantidade reduzida. Tem muita gente envolvida nos bastidores. Como trabalhamos com reserva, a equipe é sempre montada a partir da demanda. Existem pessoas que são fixas na equipe e outras que são flutuantes. Essas pessoas que são flutuantes já trabalham com na gente há muito tempo . São pessoas treinadas com base naquilo que a gente já faz, portanto não existe nenhum impacto negativo a partir de demandas altas”, conta. 

Felipe (filho)                                                           Fred Fedullo

Sobre a interferência do trabalho gastronômico na dinâmica da casa e das atividades domésticas, o empresário garante: “Temos dias determinados pra atender. De terça à sábado para almoço e de quinta à sábado também para o jantar.  Impacto do negócio na família ou da família no negócio não existe porque a minha família é muito pequena. Somos apenas 3 pessoas, que trabalham, que têm seus afazeres. E o seguimento de clientes que a gente atende é muito específico. São pessoas que entendem perfeitamente onde estão indo, que tipo de negócio estão visitando e que tipo de produto ele está comprando.

E a pergunta que não poderia faltar depois de uma história como essa. O que a culinária representa na vida de Fred? Para ele não foi difícil responder: “Curiosidade e prazer” e completa: “Se observarmos em termos de extensão, o mundo, o país que a gente vive é tão grande que se não houver curiosidade a gente não sai do bife, feijão e arroz.”


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